SILVESTERCHLÄUSE: o “antigo” Revellion da Suíça.

Há muitos anos, quando a Europa usava o Calendário Juliano (criado pelo Imperador Júlios César) como referência, estou falando do ano 46 a.C, a virada de ano, ou como costumamos chamar, o Revellion, era celebrada no dia 13 de janeiro.

No final do século XVI os protestantes de Ausserrhoden, resistiram à imposição do novo calendário, decretado pelo Papa Gregório, e continuaram mantendo o Calendário Juliano como referência. Por isto, até hoje, Urnäsch, no Appenzell, continua celebrando o dia 13 de janeiro como o “velho” momento de dar as boas vindas ao Novo Ano, com uma linda tradição chamada de Silvesterchläuse.

appenzellerland.ch

Tudo indica que esta manifestação tenha começado durante as comemorações do Advento, com um grupo de estudantes de uma escola monástica, ainda na era medieval, a qual até então não era considerada pagã. Porém, a partir do século XV as mesmas foram tomando formas cada vez mais selvagens e parecidas com o Carnaval que a Igreja se viu “obrigada” a negociar a mudança do dia da celebração, deixando o Advento para trás e passando então para a Véspera do Ano Novo, mantendo-se assim até os dias atuais no lado protestante do cantão de Appenzell, o Ausserrhoden.

A festa conta com três diferentes grupos trajados de acordo com o tema de cada um deles: os “Schöne Chläus“, os “Wüeschti Chläus” e os “Naturchläus“. O primeiro deles, o grupo dos “belos”, é formado por homens que levam nas enormes cabeças artísticas que carregam, cenas do cotidiano rural da região suíça onde se encontram, o Appenzell. Tantos pequenos detalhes são frutos de centenas de horas de trabalhos manuais. Trajam roupas coloridas parecidas com as tradicionais dos camponeses da região. Os “belos-feios” são uma mistura dos outros dois, usam um traje feito de galhos, hera e musgos. Em alguns detalhes parecidos com os “belos” porém com mais elementos naturais, como os citados acima. Já os “feios” também são cobertos por materiais naturais que saem dos bosques da mesma região: madeiras, galhos, folhas, pinhas… porém mais grosseiros que o grupo anterior e com cabeças diferentes, dando uma aparência mais selvagem à eles.

“Os Belos”
Detalhes de uma cabeça de um grupo de “Belos”.

Todos os grupos são formados somente por homens devido ao peso das vestimentas. Eles são 6 no total, e alguns deles representem a figura feminina. As figuras masculinas carregam de 1 a 2 sinos enormes nos troncos ou costas. Eles escondem os rostos com máscaras que vão das mais singelas e bonitas, dando um ar de boneca aos membros, passando pelas naturais até chegar às mais selvagens e assustadoras, principalmente para as crianças. O líder de cada grupo carrega na boca uma flor branca, enquanto os demais uma azul.

Os “Menos Belos”.

Existe o quarto grupo, os “Spasschläus“, ou “coringa”, que representam uma forma um pouco mais livre da tradição e geralmente se vestem com roupas mais leves, ilustrando pessoas profissionais (agricultores, trabalhadores florestais ou cozinheiros). Os grupos são menores, com 4 homens que não carregam cabeças elaboradas como os demais, mas apenas máscaras, lenços ou gorros pretos. Esses são ex-membros, ou cantadores de “jodeln”, que querem manter a tradição sem o enorme investimento de tempo e energia necessário para a produção dos figurinos detalhados como os dos outros grupos.

Nas primeiras horas da manhã eles, os “Chläuse” começam a aparecer, e em grupo seguem de casa em casa, fazenda em fazenda, comércio em comércio, chacoalhando os enormes sinos pendurados nas suas roupas ou fantasias e cantando o tão tradicional “jodeln” por três vezes (um estilo único de se cantar sem palavras, somente alternando rapidamente sons torácicos, como o próprio nome de origem alemã já diz “pronunciando a sílaba jo”) como forma de desejar aos cidadãos um excelente começo de ano. Os anfitriões para retribuir o ato oferecem cerveja ou licor para os membros dos grupos, que precisam beber com um canudo sustentado pelo anfitrião, afinal com aquelas máscaras, sinos e bengalas, eles não conseguiriam sozinhos. E assim seguem celebrando o dia inteiro! Com algumas pausas para as refeições. E nós claro, temos que sair à caça deles.

O evento é gratuito porém você pode organizar o tour que custa em média 150 francos por pessoa e inclui a pernoite, refeições e o tour em si no dia do evento. Caso seja a sua escolha, reserve o quanto antes pois o número de vagas é limitado e geralmente se esgota.

Em outras partes do cantão esta manifestação também acontece no “Novo Ano Novo”, ou seja, no dia 31 de dezembro. Caso as datas caiam num domingo, elas são sempre celebradas no sábado que as precede. Para maiores informações sobre local e horários, visitem a página de turismo oficial do cantão de Appenzell.

COMO CHEGAR EM URNÄSCH

Você pode colocar a localização no mapa e chegar facilmente com o carro. Mas lembre-se, não há muito espaço para estacionar, pois a cidade é relativamente pequena e durante um evento como este ela recebe muitos visitantes, principalmente depois das 10h da manhã. Durante o evento você deverá percorrer as ruas a pé.

A viagem de Zurique até Urnäsch leva 1h05.

A outra alternativa é ir de trem. Saindo de Zurique basta pegar o IR 13 ou IC 5 direção St. Gallen, trocar em Gossau pelo S 23 que vai em direção à Appenzell e descer em Urnäsch. A viagem dura 1h34 e custa (preço cheio) por volta dos 34 francos. Caso você compre com antecedência terá mais chances de encontrar promoções e assim pagar bem menos. Vale checar o “day pass” também, que inclui todos os transportes públicos o dia inteiro. Ou é claro, o Swiss Travel Pass para ser usado durante toda a sua permanência.

Da estação de trens basta seguir o fluxo a pé e você encontrará os “Chläuse”. Caso não haja muita gente, basta seguir o barulho dos sinos e lá estarão eles.

No centrinho da cidade há um serviço de transfer para os locais por onde os “Chlause” passam e há também uma barraquinha do centro de informações turísticas auxiliando com mapas, horários e mais detalhes sobre o evento.

Você não precisa necessariamente pegar o transfer. Dá para fazer tudo a pé.

Fiquei positivamente surpresa com esta celebração! Foi lindo estar alí, rodeada de montanhas e campos um tanto quanto congelados, em uma manhã gelada de sol. Presenciar tradições tão antigas sendo levadas adiante me emociona!

Caso você esteja visitando o país nos períodos deste evento, tente ir! Tenho certeza que será inesquecível e uma experiência que deixará em você lindas memórias!

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Brenda Tavares
Brenda Tavares
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Priscila
January 25, 2020 11:58 am

Que legal! Eu vi tudo pelo seu Instagram e adorei conhecer um pouco mais da cultura da Suíça 🙂

Ana
Ana
January 23, 2020 12:44 pm

Acompanhei seus stories nesse dia e AMEI conhecer! Nao tinha ideia que isso existia!! E olha que eu ja estudei mt sobre a região!! AMEI !!! Agora quero conhecer de perto!!!

Cleide
January 23, 2020 12:04 pm

Com certeza, a melhor parte de viajar é poder conhecer novas culturas… Por isso imagino que vivenciar uma celebração como essa, tão antiga e tradicional, deva ser incrível! Eu amaria participar. Parabéns pelo post e pelas fotos lindas!

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