Quando falamos sobre a Suíça mundo afora é unânime o reconhecimento que o país possui na relojoaria. Conhecida pela fabricação de verdadeiras obras de arte, com o mais alto nível de precisão e qualidade, a Suíça é realmente uma referência no setor, com uma produção que chega a 20 milhões de relógios por ano, tornando-a uma potência que comanda cerca de 50% da indústria mundial no que diz respeito ao faturamento, o qual atinge a bagatela de 50 bilhões de francos suíços.
A convite de Pays de Neuchâtel embarquei em direção ao Vale Suíço dos Relógios, encravado entre as montanhas de Jura, no cantão de Neuchâtel, onde há cerca de 3 séculos grandes nomes do setor relojoeiro se estabeleceram e começaram a produzir este ícone, mundialmente reconhecido como um Patrimônio Suíço. Prontos para viverem esta experiência incrível comigo?
ÍNDICE:
LE LOCLE & LA CHAUX-DE-FONDS
Eis aqui o berço da relojoaria suíça. Estas “pequenas” cidades são de extrema importância para a história do país e do segmento no qual estamos focando nesta viagem. Ambas fazem parte da lista de Patrimônio Mundial da UNESCO, estão poucos minutos distantes entre si e servirão de base para os nossos dias na região.
Fiquei hospedada durante este dias de viagem na Maison DuBois, uma vila que serviu de casa para uma das mais antigas casas relojoeiras da Suíça, a Philip DuBois e que atualmente funciona como um charmoso B&B, debruçado sobre Le Locle.
A acomodação é simples porém agradável e preserva muitos elementos da sua história, como ferramentas de trabalho, quadros, pinturas, e por aí vai. O quarto era espaçoso, bem bonitinho e com bom isolamento acústico, já que estamos no coração pulsante de Le Locle é importante saber disso pra salvaguardar o seu sono. A ducha é ótima!
O café da manhã é servido no térreo, num amplo salão que recebe uma linda luz através os janelões que debruçam sobre o calçadão. Há vagas de estacionamento ao redor e entre as 18:30 e as 8:00 não é necessário efetuar pagamento.
Não há elevadores conectando os andares, então leve isto em consideração quando for fazer as malas.
La Chaux-de-Fonds foi reerguida das cinzas após o incêndio de 1794 com o principal intuito de servir de base para a produção relojoeira da Suíça.
Muito do estilo e desenvolvimento urbano destes lugares já indicam quais foram os pontos levados em consideração durante o planejamento, como por exemplo as enormes janelas das casas voltadas para o sul, que eram uma excelente fonte luminosa para as escrivaninhas dos que realizavam um trabalho tão minucioso, quando na época não havia energia elétrica e por ser uma região alta e montanhosa havia uma escassez natural de luz por um período prolongado do ano.
Durante a viagem descobri algo que me surpreendeu: os primeiros relojoeiros da Suíça eram fazendeiros que durante os meses mais frios, quando as fazendas “paravam”, se dedicavam aos trabalhos manuais e minuciosos. Quando em um determinado momento os relógios passaram a ser mais lucrativos que a produção rural eles então passaram a se dedicar 100% a fabricação deste objeto que levou a Suíça ao patamar em que hoje se encontra no mundo da relojoaria.
Em seguida listarei para vocês os passeios que fiz durante a minha permanência. Quem estiver viajando pela região terá direito ao Neuchâtel Tourist Card, o qual os permitirá acesso gratuito em várias atrações, assim como o uso dos meios de transporte sem precisar pagar além por isso.
TOUR GUIADO PELA MANUFATURA DA ZENITH
A minha imersão no mundo dos relógios começou com uma visita guiada pela primeira manufatura a abrir as portas ao público. A Zenith, marca suíça de grande prestígio que nasceu aqui em Le Locle em 1865, por inciativa do jovem Georges Favre-Jacot, que na época tinha apenas 22 anos e abriu a então “Fabrique des Billodes”, desenvolvendo relógios de bolso e instrumentos de navegação para a marinha.
Esta precisão do seus cronômetros era tamanha que permitiu a empresa a levar para casa mais de 2.300 prêmios de cronometragem nos seu muitos anos de existência. Não é atoa que a Zenith é a marca com o maior número de prêmios no campo da precisão, em todo o mundo.
Durante a II Guerra Mundial, a empresa equipava os mostradores dos painéis de cockpit dos hidroaviões da força aérea Francesa, e também forneceu instrumentos para a marinha Italiana. E tudo isso pode ser visto durante a visita.
Em 1911 ela passa então a ser chamada de ZENITH, referência ao ponto mais alto da trajetória de uma estrela. A marca também foi responsável por desenvolver o calibre “El Primero”, o primeiro movimento de cronógrafo automático do mundo, e também o primeiro cronógrafo automático de alta frequência. A Zenith possui mais de 600 tipos diferentes de movimento. Foi impressionante ouvir o “tic tac” do El Primero. Como um coração pulsando muito acelerado.
Em 2012, o pára-quedista Félix Baumgartner saltou da estratosfera, atingindo uma velocidade de 833,9 milhas por hora, equipado com o modelo El Primero Stratos Flyback Striking 10 Cronógrafo. E assim, juntou-se à longa lista de pioneiros com quem trabalhou a Zenith.
Se você é um apaixonado por relógios esta com certeza será uma atividade extremamente interessante. Conhecer o processo de criação dos relógios, ver as peças separadamente, ter acesso a departamentos confidenciais da marca e poder participar de um workshop com um dos masters relojoeiros deste país foi uma experiência que levarei comigo pro resto da vida.
Os tours acontecem toda sexta-feira pela manhã, custa 40 francos por pessoa e pode ser reservado aqui.
ONDE COMER EM LE LOCLE
Saindo da visita guiada pela Zenith fomos almoçar no Chez Sandro, um restaurante bem movimentado que parece ser bem apreciado pelos locais. Os donos são italianos e a comida estava excelente. Comi o melhor lagostim da vida! Também provei o tartar de salmão e os medalhões de veado. Tudo estava realmente muito saboroso, cozimento no ponto perfeito e apresentação bonita. O staff também merece estrelinhas, todos muito educados e cordiais.
MUSEU DO RELÓGIO
Depois do almoço delicioso seguimos em direção ao Museu do Relógio, aqui chamado de “Musée d’Horlogerie“. Uma deslumbrante residência do século XVIII que atualmente abriga uma riquíssima coleção de relógios, autômatos em miniatura e peça únicas da relojoaria.
Também conhecida pelo nome de Château des Monts, antes de adentrar na história que ela conta lá dentro já nos deslumbramos com a sua beleza do lado de fora, imponente sobre o alto da colina, debruçando sobre a cidade de Le Locle.
Comece o seu tour pelo andar superior, onde você consegue assistir a um filme que ajudará a criar um senso lógico durante o passeio e a entender melhor as peças que você poderá apreciar por lá. A coleção é realmente linda!
EXOMUSÉE, ARTE DE RUA
Para concluir o primeiro dia de visitas organizado pela Pays de Neuchâtel, seguimos à descoberta das criações de artistas internacionalmente renomados, que compõem o museu a céu aberto localizado numa área pública de Le Locle e que está gratuitamente disponível a todos durante todo o ano.
Os desenhos são dos mais variados possíveis porém ligados, também eles, ao mundo dos relógios. Você vai virar uma esquina e se deparar com um mural gigantesco, a seguir num cantinho de muro poderá encontrar outra arte minúscula, ou uma escultura colocada sobre a porta. Me senti realmente como em uma caça ao tesouro e foi bem divertido. Clica aqui para ter acesso ao site deles e onde você pode encontrar um mapa com as localizações das pinturas.
A noite fomos jantar no Auberge de la Ferme Droz-dit-Busset. Um lugar bem rústico, com lareira, aquelas salas em madeira, bem estilo tavernas. O atendimento foi muito cordial, o nosso garçom muito atencioso e simpático e a comida estava de lamber os dedos. Percebi que em muitos dos restaurantes que passamos a comida é bem na pegada “caçador”. Sei que nesta época do ano é bem comum em muitos lugares aqui da Europa e alí isso ficou bem claro.
Eu mais uma vez fui na sopa de abóbora de entrada (gente eu amo abóbora, posso comer todo dia nos mais variados jeitos) e de principal fui no filé com molho de cogumelos, batatinhas e Spätzle, que é uma massinha fresca muito comum daqui que é saltada na panela e eu acho uma delícia.
Amamos o vinho local, e a sobremesa estava também maravilhosa!
Após o jantar voltamos para o hotel para descansar e estarmos bem preparados para o nosso segundo dia de descobertas e vivências por aqui.
ESMALTANDO O PRÓPRIO RELÓGIO
Mostradores esmaltados existem desde o século XVII. Atualmente podem ser vistos em peças históricas, nos museus, ou em edições exclusivas de alguns relógios. A técnica foi usada até o século XX, quando os mostradores de metal começaram a ser produzidos e conseguiam colorir os discos sem a necessidade da esmaltação. Mesmo assim, o branco opaco segue sendo feito à velha maneira.
Durante este workshop em Peseux, tive a honra de conhecer Vanessa Lecci, uma das grandes esmaltadoras remanescentes neste mundo e ao lado dela tive o privilégio de conhecer mais a fundo sobre a sua profissão e grande amor pelo que faz. Durante o workshop tive a chance de praticar algumas das etapas do processo que envolve este trabalho e consegui entender e dar ainda mais valor a peças que sei que passaram por este trabalho manual fascinante.
Que experiência incrível! Sem sombra de dúvidas um dos pontos altos do nosso passeio pela Região dos Relógios e que se você é um apreciador deste segmento eu super indico reservar a mesma experiência. Os workshops acontecem com frequência e em diferentes idiomas, clica aqui e checa a disponibilidade deles (as turmas são bem limitadas).
AUVERNIER
Terminada a aula de esmaltação dos relógios, seguimos direto para o almoço, desta vez em Auvernier, que fica a 30km de Le Locle, bem às margens do Lago de Neuchâtel e que é puro charme. Não atoa eu não queria sair de lá e voltei apaixonada pela cidade, que parece ser pacata, com casarios lindos, a cor, a luz que tinha ali… eu AMEI!
O restaurante da vez foi a Brasserie du Poisson. A comida estava bem boa, mas os outros dois restaurantes por onde passei antes me agradaram mais, talvez pelo mix de estilo e sabor, os senti mais aconchegante. Mesmo assim, estando por aqui é com certeza uma boa pedida. Localização ótima, com uma vista linda, pratos saborosos e atendimento cordial. Ah, eu amei muito o profiteroles deles! Se vierem peçam e depois me agradeçam pela dica! 😀
Saindo do restaurante fomos a pé até Au Carillon d’Or. Pai e filhos (Thierry, Grégory & David) levam adiante a tradição e o conhecimento na arte de restaurar relógios (e construi-los também), que por ali chegam de diversas partes do mundo. Dos cucos aos relógios super elaborados é um verdadeiro deleite para os apaixonados pelo tema ou por relíquias.
MUSÉE D’ART ET D’HISTORIE DE NEUCHÂTEL
Encerramos a nossa passagem pela região de Neuchâtel com uma visita guiada pelo Museu de Arte e História da cidade, e uma exibição dos autômatos de Jaquet-Droz. Foi alucinante ver e apreciar de pertinho 3 peças de tamanha complexidade engenhadas por alguém com não somente uma genialidade na mecânica mas também no marketing.
Jaquet-Droz foi um homem que realizou vários caprichos dos reis. O gênio que criou um dos primeiros autômatos, ou “andróides” em tamanho real. Eles eram capazes de realizar tarefas como tocar música, escrever frases (imagine isso numa época em que a maioria das pessoas não sabia ler) e desenhar, com base nos programas mecanicamente inseridos neles.
Era assim que Jaquet-Droz percorria muitos quilômetros, levando consigo as suas criações, as quais eram a sua melhor ferramenta de marketing na tentativa de divulgar o que ele era realmente capaz de fazer com a sua excelência em construir relógios. O público muitas vezes se assustava com a apresentação, achando que os “bonecos” estavam possuídos ou que dentro deles havia alguma criança ou anão executando os movimentos.
A experiencia foi incrível e abriu um mundo dentro da minha cabecinha. Super recomendo ela! Disponível a cada primeiro domingo do mês, em 3 diferentes horários. Para reservar clica aqui.
Espero que vocês tenham curtido a experiencia tanto quanto eu. Agora vamos pra casa arrumar as malas porque logo mais teremos mais uma viagem incrível!
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Thank you for the great informations